Fotos: Arquivo Pessoal
Nas prateleiras das locadoras desde junho passado, o filme “Rota Comando”, é um relato da criminalidade sob a ótica dos policiais da Rota, uma espécie de Tropa de elite da policia paulista, oficialmente batizada de Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar criada em 1970. O filme foi baseado no livro “Matar ou Morrer” do ex-capitão, Conte Lopes, “Rota Comando” foi o primeiro filme do diretor Elias Junior. Entre os atores que compõem o elenco, destaque para João Miller. O ator de 30 anos morou em Laranjeiras durante 20 anos, e ainda guarda muitos laços com o bairro, uma vez que boa parte de sua família ainda mora aqui. No filme João interpreta o impiedoso criminoso Mané e fala com exclusividade ao JTL como foi essa experiência.
Como você iniciou sua carreira de ator?
Desde a época de escola eu sempre fui muito envolvido com a parte cultural de onde estudei (E.E. Francisco Gonçalves Vieira, colégio situado em Laranjeiras). Sempre dava um jeito para que os trabalhos propostos pelos professores acabassem em uma boa e velha encenação teatral. E foi então que por volta de 1996, conheci, por intermédio de meu pai (que por sua vez ficou sabendo através de um anúncio de jornal), a escola preparatória de atores “Platéia Filmes”, que mais tarde se tornaria “Academia Brasileira de Preparação Artística”. Lá dei meus primeiros passos como ator, sendo instruído por grandes pessoas e professores como Fabrício Cavalcante e Reinaldo Sapucaia, encontrando por lá também um grande amigo, que por coincidência, também é do bairro, Fábio Mátjas. Após alguns anos de estudos, saí para o mercado, trabalhei em eventos com grandes pessoas e diretores como Zilda Mayo, e de 1999 para 2000, conheci a produtora Vânia Bastian e a CIA.Trapiche, companhia da qual faço parte desde então. Já são mais de nove anos trabalhando para levar cultura e entretenimento ao público brasileiro.
Como surgiu a oportunidade para atuar no Filme Rota Comando?
Como normalmente acontece no meio artístico, me indicaram para o teste, e mais ou menos em maio de 2008, a produção me contatou para que eu fosse já no dia seguinte participar da gravação de uma cena, que no fim tornaram-se duas, três... E o meu personagem começava a crescer e se tornar evidente dentro da trama. Claro que tudo só aconteceu dessa forma, porque o Diretor Elias Junior e os meus parceiros de cena permitiram que eu mostrasse um pouco do meu “humilde” trabalho, digo isso não para parecer o bom moço, mas por ser a minha primeira atuação para cinema, sou um bebê aprendendo a engatinhar.
Você fez algum tipo “oficina” para interpretar o criminoso “Mané”?
Busquei através de laboratórios, tipos que se enquadrassem no perfil do Mané, observando nas ruas, nos telejornais, no dia-a-dia das periferias, e foi assim que consegui, através de um grande mosaico de psiques diferentes, construir o personagem. Além, é claro, da preparação proposta pelo diretor, sendo esta, voltada para o manuseio de armas, buscando o máximo de realismo com o máximo de segurança.
O filme traz cenas de violência explicita em sua opinião esse tipo de filme, gera mais violência?
Não. Primeiramente porque o filme não é recomendado para menores de 18 anos, ou seja, o público ao qual o filme é recomendado, já não está na crítica fase de formação de caráter e personalidade em que as crianças se encontram. Não vejo “Rota Comando” influenciando ninguém a sair por aí agredindo criancinhas, ou estuprando moças indefesas. Cinema, baseado ou não em fatos reais, sempre é ficção, elementos ficcionais unidos à realidade criada pelo diretor e sua equipe, nada de apologia ou exaltação, pura vontade de se realizar a sétima arte de maneira competente e responsável.
A Rota foi responsável por 86% das mortes no massacre do Carandiru em 1992, e até hoje é uma das policias que mais mata em todo o Brasil. Como você vê o papel da policia hoje nas grandes capitais como São Paulo?
Até fazer parte do elenco e da equipe do filme, eu conhecia pouco sobre a ROTA, no entanto, lá dentro do batalhão a gente entende um pouco melhor o que é a doutrina rotariana. Verdadeiros guerreiros que saem de casa sem saber se voltam. A ROTA tem fama de ser linha dura, mas sem dúvida, é a mais competente e preparada força policial do estado, principalmente em incursões em favelas, na qual a mesma é especializada. São Paulo hoje é uma das maiores e mais populosas metrópoles do país. Inevitavelmente, com o crescente nível populacional, cresce também a desigualdade social, automaticamente, a criminalidade. Nós cidadãos de bem, estamos constantemente reféns dessa violência urbana, ruim com a ROTA, pior sem ela.
Apesar de estar nas prateleiras das locadoras, o filme foi amplamente pirateado? Como você vê a pirataria no Brasil?
É uma doença sem cura. Não se consegue controlar o incontrolável, a pirataria hoje no Brasil é, sem dúvida, a principal engrenagem da máquina do mercado informal. Segundo dados, só “Rota Comando”, vendeu mais de dezenove milhões de cópias piratas, isso há duas semanas atrás. Os grandes produtores vão ter que se conformar e se acostumar com esse comércio que tende a crescer como uma célula cancerígena “acultural”.
Você sobrevive da arte, ou tem alguma outra atividade?
Hoje vivo de arte e produção Audiovisual, profissão na qual me formei recentemente.
Deixe uma mensagem aos leitores do JTL e para todos aqueles que querem ser atores ou atrizes.
Façam com amor, estude, persista na busca de seus objetivos e realizações. Ser ator é estar constantente renovando sua paixão pela vida, buscando a ligação do seu ser inferior com seu ser divino. Minha busca continua.
“Busquei através de laboratórios, tipos que se enquadrassem no perfil do Mané, observando nas ruas, nos telejornais, no dia-a-dia das periferias, e foi assim que consegui, através de um grande mosaico de psiques diferentes, construir o personagem”
João Miller, ao lado na pele de Mané seu personagem no filme “Rota Comando”
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